Os homicídios a bala representam mais de 80% do total de assassinatos registrados em todo o Estado do Ceará
JOSÉ LEOMARno ceará
Taxas de homicídios aumentam 104
O resultado do Mapa da Violência 2012 colocou o Ceará na 14ª posição no ranking de mortes violentas
Os dados do mais recente ´Mapa da Violência Homicida´ no Ceará assustam, amedrontam. Na última década, entre os anos de 2000 e 2010, o número de homicídios no Estado aumentou 104,6%, conforme as informações divulgadas ontem pelo Instituto Sangari. Em 2000, 1.229 pessoas perderam suas vidas e, no ano passado, 2.514 engrossaram essa triste estatística.
O cenário coloca o Ceará na 14ª posição em número de homicídios registrados a cada 100 mil habitantes em 2010. O Estado chegou a ocupar, há dez anos, a 17ª posição. No ranking do Nordeste, o Ceará fica em 6º.
A situação também parece crítica em Fortaleza. A Capital teve aumento de 86% de mortes na última década. Em 2010, foram registrados 1.125 homicídios, contra 604 no ano 2000 e contabilizados 45,9 assassinatos a cada 100 mil habitantes.
As cidades de Maceió, João Pessoa e Vitória são líderes entre as capitais mais violentas do País. O atual índice de mortes é menor em Palmas, Campo Grande e São Paulo, que ocupa a última posição na lista. O documento ressalta, no entanto, que houve um crescimento populacional o que, naturalmente, leva ao aumentos dos índices.
Entre os fatores apontados para o número de mortes está, em especial, a violência gerada pelo tráfico de drogas.
Vítimas
E nessa contagem de corpos, Antônia (nome fictício), moradora do bairro São Miguel, em Messejana, parece chorar cada uma dessas mais de mil lágrimas corridas nos rostos de filhos, viúvas e demais entes que perderam seus parentes. Ela foi obrigada a enterrar um filho, 23, e um dos sobrinhos, 18.
Ambos foram vítimas do tráfico, da guerra de gangues. Duas balas perdidas encontraram os jovens e os colocaram nas estatísticas gerais de morte.
"Não queria que eles fossem mais um número, um dado qualquer. Precisamos de justiça, de mais investigação e de urgência para resolução dos muitos conflitos existentes", disse Antônia.
Se Fortaleza possui índices altos de violência, houve municípios, no entanto, que não registraram, segundo o Instituto Sangari, nenhuma morte violenta. Dentre eles, 27 cidades cearenses. Por outro lado, aumentou o número de municípios que obtiveram taxas de homicídio acima da média nacional, de 11 no ano 2000 para 46 em 2010, o que equivale a 25% do Estado.
A grande novidade, de acordo com o estudo do Instituto Sangari, seria a migração da violência homicida para o Interior do Ceará, principalmente entre os anos de 1998 e 2010.
Conforme o mapeamento divulgado ontem, houve certa dispersão dos focos de violência. As localidades que mais cresceram foram, segundo o relatório, os 90 municípios com população entre cinco e 20 mil habitantes e com taxas de homicídio bem acima de 50 mortes a cada 100 mil habitantes.
Soluções
Em meio às estatísticas, Paulo Uchoa, coordenador do Meninos de Deus, grupo que oferece apoio e esporte para crianças e adolescentes envolvidos com a violência no Parque Santa Filomena, no Grande Jangurussu, tenta manter o otimismo.
Com 102 jovens atendidos, Uchoa se alegra com cada um dos que consegue salvar do tráfico. "Uns 20 meninos estavam marcados para morrer. Evitamos a matança deles dando mais auto-estiam, sonhos e emprego. É preciso mais apoio e projetos sociais. Não basta apenas repressão", finalizou.
IVNA GIRÃO E KARLA CAMILA
REPÓRTER E ESPECIAL PARA CIDADE
EXPLICAÇÕES
Conforme Secretaria, índice reduziu 3%
Sobre os dados apresentados pelo Instituto Sangari sobre os ´Novos Padrões da Violência Homicida no Brasil´, o titular da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Francisco Bezerra, lamentou o crescimento na última década, mas ressaltou que as taxas caíram durante sua gestão.
"O número de homicídios no Ceará parou de crescer a partir de 2010 e sofreu uma redução de 3% até novembro de 2011", disse Francisco Bezerra.
Trazendo os dados da Secretaria de Segurança Pública do Ceará, ele frisou ainda que, infelizmente, as estatísticas de homicídio vinham crescendo ano após ano até 2010, quando, segundo Fernando Bezerra, houve acréscimo de 27% em relação ao ano anterior.
Apreensões
Mostrando os resultados de ações de combate aos homicídios, Bezerra expôs os montantes do que foi apreendido em 2011: 213 quilos de crack de janeiro a novembro deste ano, sendo 302% a mais que no mesmo período de 2010, quando foram apreendidos 53 quilos. Ainda conforme a SSPDS, foram apreendidos 119 quilos de cocaína neste ano, 271% a mais que em 2010, quando foram recolhidos 33 quilos no mesmo espaço de tempo.
"Até novembro deste ano, apreendemos 4.510 armas de fogo no Ceará. Em 2010, foram 3.439 armas apreendidas", apresentou o secretário.
Entre as medidas impulsionadas para redução das mortes, Bezerra enumerou o combate mais rigoroso ao tráfico de drogas, um reforço no serviço de inteligência dos órgãos de segurança pública e um melhor redimensionamento dos grupos extensivos. "Estamos colocando mais policiamento onde há maior incidência de crimes".
Interior
Sobre o cenário de aumento dos homicídios nas cidades menores, Francisco Bezerra comentou que há sim uma preocupação para além da Capital. Para tentar amenizar o quadro, novos mil concursados da próxima seleção serão deslocados para o Interior do Ceará.
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Mortes por arma de fogo crescem 5 vezes
Segundo um estudo realizado pelo Ministério da Saúde baseado nos dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), a quantidade de homicídios provocados por arma de fogo aumentou cinco vezes no Ceará nos últimos 15 anos. Para se ter uma ideia, no ano de 1996 o órgão registrou 351 óbitos em decorrência de ferimentos a bala, já em 2010 esse número aumentou para 1.896, apresentando um crescimento de 440%.
O crescimento foi o maior do Nordeste empatando com o Piauí que registrou 40 mortes dessa natureza em 1996 e 206 homicídios por arma de fogo em 2010. Em seguida estão os estados da Paraíba e Maranhão, onde os assassinatos aumentaram um total de quatro vezes.
A pesquisa reforça a matéria divulgada na última terça-feira pelo Diário do Nordeste, onde por meio de um levantamento feito pelo próprio periódico sobre a quantidade de casos de mortes por arma de fogo em Fortaleza e Região Metropolitana, em 2011, foi possível mostrar que 84% dos assassinatos cometidos foram em decorrência de ferimentos a bala.
Armas ilegais
Se analisando somente 2010, o Ceará é o terceiro do Nordeste com o maior número de assassinatos por ferimento a bala, ficando atrás da Bahia, com 4.168 mortes e Pernambuco com 2.632. No ranking brasileiro o Estado é o sétimo em assassinatos. Em 1996 o Ministério da Saúde registrou 22.976 mortes por arma de fogo, já no ano passado foram 35.233, o que demonstra um aumento de 53% dos casos em 15 anos.
Segundo a socióloga Fernanda Vieira, integrante do Laboratório de Estudos da Violência (Lev) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a maioria dos homicídios acontecem devido a circulação ilegal de armas no Estado. É também o que afirma Estudo, realizado em 2010 pelo Viva Rio em parceria com a Subcomissão de Armas do Congresso Nacional, revela o mapa das armas no Brasil.
A pesquisa identificou que o Ceará tem uma estimativa de que 241 mil armas estejam circulando em posse civil e 48% delas sejam ilegais, o que representa 115 mil 689 armas sem registro ou numeração adulterada.
Para a socióloga o fácil acesso às armas de fogo está diretamente ligado ao aumento do número de homicídios e muitas dessa vítimas são jovens. Segundo ela, a saída seria a Secretaria de Segurança Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS) realizar um trabalho de mapeamento das áreas de circulação de armas de fogo ilegais. "A melhor medida seria uma parceria entre os cidadãos e o governo, ou seja, conscientização versus fiscalização, só assim poderíamos ter resultado positivo e objetivo na luta contra violência com arma de fogo ", finaliza Fernanda.
Ranking
3ª é atual posição do Ceará com relação aos estados nordestinos que tiveram o maior número de assassinatos por ferimento a bala, conforme o Ministério
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